14 de mai. de 2013

Aterrizagem em prisom

[Nota aclaratoria: Este "diario"  non é o orixinal. O orixinal "perdeuse" polo caminho dende Soto del Real nalgures no mes de Xaneiro. Voltou reescribilo e envialo xa dende Villabona]

Sexta-feira, 11 de Janeiro, 2013.

Esperto e olho ao meu redor. Estou numha cela de isolamento da prisom de Soto del Real. Onte cheguei da Audiência Nacional num furgom da 'guardia civil'. Dentro, dous polacos, um albano, um colombiano e mais eu. Semelhavam simpáticos:
- De onde és? Nós somos de Europa, da Europa de verdade -ri-. Nós estamos todos por extradiçom. E ti de onde és?
- De Galiza.
- E por quê estás aqui?
- Por política.
- Ah! És comunista, anarquista?.
- Algo assi, som independentista.
-Ah! És o que colhêrom o outro dia, lim-no na prensa.- diz o colombiano.

Um dos polacos tem os olhos azuis, loiro e com um sorriso constante, nom para de falar e mover-se, chisca um olho e diz-me:
 - A ver quando fazedes voar o edifício este eh!
Ao seu lado esquerdo está o albano, um homem mais reservado, mas com um aura de ironia nos olhos:
 -A ver moreno, que papéis levas ai?-. Ensina e sinala o outro e ri.
 - Fuga dum cárcere em Bélgica e vandalismo destrutor, que é vandalismo destrutor?-.Ensina e sinala o papel, estranhado polo termo
 - Hóstia, tés polo menos quinze alcumes, eh?-. Responde com um meio sorriso e umha mirada fugaz.- E ti, colombiano, por que estás?.
O colombiano tem outro aspecto, mais como de resignaçom, mais roído polos anos. - A mim buscam-me por um atraco  numha *joalharia no que nom participei .
- É a primeira vez que conheço alguém acusado de resistência galega, eu conhecim gente da resistência basca .-Nós todos estamos aqui por extradiçom, a mim querem-me mandar a Alemanha quando tenho aqui mulher e filhos.
 - Eu nom me lembro quase do delito polo que me colheram, levo dez anos fora-. Este tem um aspecto menos curtido, mais invadido polo desconcerto. - Levam-nos como se fossemos mercadoria.
- O porco da minha nai está melhor que aqui-. Rim.
- Mas ti que és, das montanhas?.
- Nom, som dumha aldeia, eu estava no monte quando uns encarapuçados se botárom em riba de mim.



O furgom para ao lado do que semelham uns julgados.
- A ver, terrorista, busca a forma de sair de aqui.
- A ver ai o de Bélgica, que é um experto.

De súpeto um picoleto abre a porta e manda baixar a um dos polacos e ao albano: - A ti deixamos-te porque trais muita coca, eh!-. diz um dos picoletos ao colombiano.
- Já, tenho quilos ai eh!-. Ri.
Aos poucos voltam abrir a porta e metem a um homem mais novo, mulato, que nom se chega a sentar de todo. Crava os olhos no ventanico que há rectangular, polo que entra escassa luz. A mirada perdida.
- Eu som dominicano, estou aqui por um problema com umha "chati", mas levo 4 meses preventivo, sabes?-. Ninguém semelha fazer-lhe muito caso.
- Aqui te metem e nom sabes quando sais, e os carcereiros som o pior, fam pinha entre eles e fodem-te. A mim dérom-me umha paliza entre três, sabes?.
- A mim tirárom-se-me polo menos dez em riba- digo-lhe.
- É que hoje nom há homens nem há nada.
- Mas isso como pode ser?- diz o polaco.- Eu nunca estivem no cárcere....
- Viste a película de "O Experimento?- pergunto-lhe eu.
-Sim-.
-Pois assi.

Volta parar o furgom, desta vez diante dum quartelilho da 'Guardia Civil'.
- Mira-os, tomando o sol eh!- diz o dominicano.

Ali estám um grupo duns cinco ou seis picoletos. Sorrindo e com gafas de sol, semelham chulos de praia.

Abrem a porta e sobe um senhor, de sobre 50 anos e pico, algo colorado, deixam-no subir, num primeiro momento sem algemas.
- Bom, já estades aqui um colombiano, um dominicano e dous espanhóis- diz um picoleto.
- Galego- digo.
- E dous espanhóis- diz alporiçado o picoleto. Este diz que se querem, que fumem, mas que a mim nom me ofereçam. Eu rio-me.
- De que ris?
- Nada, nada.
- Mas se o tabaco é meu- diz o homem que acaba de subir.
- Bom, pois deixade-lhe umhas caladas-.
- Pois eu estou aqui por nom ter dinheiro para pagar umha multa de 800 euros, sabes?. A minha nai tem umha pensom pequena e eu estou desempregado, e nom temos nada mais.

Chegamos a Soto del real e olho o céu e o horizonte como se fosse a última vez que o fosse olhar.
- Isto é um inferno, nom?- diz o polaco.
Pouco depois explicariam-me umhas burocratadas, daria-me umha ducha e ponho-me umha ridícula bata branca.
- Semelhas um  pintor.
- Sorte-. Despido-me do colombiano e do polaco.

Mais burocratadas. Pegadas. Já é polo menos a terceira vez que me tomam as pegadas. Foto para a ficha.
- Em menudo marron te metiches, eh?
Miro-os, caras semelhantes, grises.
Levam-me ver à doutora. A sua última pergunta é se me pensei suicidar algumha vez. Rio-me.
- Por que ris?
- Nada, nada-. Dou-lhe as "gracias" e observo-a. Tem a mirada perdida, pálida, deu-me pena.
Um dos carcereiros diz-me: - Da-lhe as gracias polo menos, homem-.
- Já lhas dim-. Respondo em galego espontáneamente. - Jálhasdim, jálhasdim- ri, entre bufos, ele só.
Cela de isolamento. A fim de contas é menos malo que estar rodeado de polícia todo o dia.
- A mim trata-me de vostede-. diz o carcereiro.
à chegada pensei que me aguardava a soidade total. E ainda nom sei se é assi. Escoito petar: "- Ola, quem és?-". Chama-se Yesi, é colombiano e está aqui preventivo por drogas. Está de acordo comigo em que os carcereiros estám pior do que nós, nom há mais que ver-lhes a cara.
Todo fica longe. E isso que levo aqui um dia. Agora mesmo tenho cinco vizinhos: número 6, um homem maior que tem problemas com os carcereiros e que está aqui por "assuntos privados", número 5, o colega do colombiano que me rula umha Interviú (coidado coa tia que sai eh!- diz-me) o número 3, um inglês que está aqui por drogas e tem causas por assassinatos, o número 2, um madrileno que só quer fumar, e o número 1, um que semelha ionki e que diz levar 2 anos em isolamento e ter recebido palizas dos carcereiros. Assi andamos.
Enfrente, um muro. Ás vezes, umha pomba pousa-se nos ferros que há em riba. Competiçom de chuspe. A ver quem dá mais longe.
Aqui há histórias. Nom há presa porque tampouco che deixam ir a nengures, claro. Em comparaçom com a rua, que é ao revés, sempre indo a algures, mas com presa, sem sentido.
Tenho fame, hoje nom nos dérom de comer ou que? Aos do lado nom lhes dérom de cear onte. A mim dérom-me na mao dous ovos com casca, três laranjas e um anaco de pam.
Ao final comim, e umha rapaza com acento pijo atende-me: "- Quero fazer a minha chamada de chegada-". "- A ver que podo fazer-".

Jean, o albano de quinze alcumes acaba de chegar acompanhado por dous carcereiros. Está desorientado porque lhe aplicam o artigo 75.1. O mesmo que o meu e o do inglês. Especial perigosidade. Em fim.

Seica esta é a cela onde estivo Gao Pin, o chefe da máfia china, na porta há inscrito: LEBRE QUIERO SER. GAO.

Eu, que levo aqui um dia pouco sei, sei que podo pedir livros e sei que podo mercar cousas. Sei-no porque mo dixo o colombiano, que estará depois no módulo 2.
Olho o catálogo, há bastantes livros. Várias secçons, até novela rosa. O que nom há é secçom de poesia.

O tempo que botei incomunicado em Madrid deu-me para escrever umha letra de rap pequena nas paredes amarelas rompendo o arámio que sobe e baixa a cremalheira da "chupa":
"A 100 metros baixo terra/
 sobrevivo ás trevas que me condenam/
a força vai por dentro/
 como o sangue polas veias/
 salvage/
como as ondas em Fisterra/
como a sávia que sobe desde as raízes/
o mencer que todo o ispe/
 e destapa todas as cores/
 do Lampai ao leste/
 do sorriso à cicatriz/
 dos meus olhos cara ti /
 de todo aquilo que ainda fica por viver...//

Pois quem se rende está rendido em qualquer sitio/
só lhe fica o nicho/
um pútrido sol-pôr/
nós vimos de onde o lombo as leva e ainda se curte/
 de onde a dor coa terra ainda se fundem/
 de onde é o esterco o que reluze/
 o ouro arde sempre baixo o lume/
que se mostra trás do horizonte/
onde a vida fai contas coa morte/
de onde a retranca que os outros ria entendem"

Primeira saída ao pátio com Jean e Tom, o inglês que resultava ser de origem paquistaní e um homem de barbas, madrileno, atracador de profissom. O pátio: um rectángulo de cemento com umha porteria debuxada na parede, ademais de várias figuras pintadas que simulam fazer exercícios. "Campo de ginástica". Em fim.

Passeios dum lado a outro, escassos metros. Tom é reservado, mas semelha ter trás de si grandes histórias.
"- Tira do sol, a ver se baixa-" diz a berros o barbudo.
E apenas baixa até dar-nos na cabeça. O céu azul. "- A ver se sai Dios de entre as nuvens e nos saca de aqui- ".
Entregam-me umha notificaçom na que se me classifica como FIES Banda Armada. "Vale, já sei de que vai todo isto " penso.
Se nom fosse porque (aguardo) me ficam muitos anos de vida definiria estes dias como a estância num purgatório. Também sei que esta é a pior cara do cárcere.
Fago umha adivinha no Interviú. RAMINTE. Isto é o que há baixo os teus pés.

Domingo, 13 de Janeiro, 2013

Outra vez o dia, hoje tenho visita. "- homem, estamos aqui coma cans. É que isto nom se lhe fai a ninguém, que a vida da muitas voltas, homem. Muitas voltas... Ali em Albânia houvo muitos políticos que rematárom no cárcere, homem...-".
O sol, o céu azul, o charco, o chusque sobre o charco, quem me desse umha bola de básket, verdade?. Pido-a mediante umha instáncia, a verdade é que é ridículo, como a bata branca ou que me aferre a umha Interviú como se fosse o melhor livro do mundo. Penso na adiçom a atracar do atracador, e em outras cousas que me diz: "- Eu, se me canso de aqui, rompo qualquer cousa e que me troquem de prisom-". "- Mas vás seguir em isolamento, nom?-". "- Si, mas polo menos viajo-". Resulta-me curioso isto, pois os traslados som o mais fodido que há, numha cela de 2m2 ou nem isso.

"- Sabes? agora nom há uniom, por culpa dos estrangeiros-". "- E nom será mais bem por outras cousas, como a educaçom da gente, as pastilhas e a TV?-". "- Si, isso tamém!-".

É curioso o contraste entre o carácter do espanhol, tolo, soberbo e falando a berros, e o do mouro, tranquilo, relaxado, disciplinado e reservado. O albano nom o leva nada bem, ele já se fugou do cárcere ao menos duas vezes. Mas é reservado também, nos olhos azuis reflexa-se: supervivência, vida que rula por dentro, nobreza tamém a de ambos. E tamém como o audiovisual se reflexa na vida:
- Sabes, em Youtube, um albano fugou-se num helicóptero. Mira-o quando podas.
- E sabes "Prison Break"?, eu seguia-o (risos).
- Ah, pois ele semelha um de "Lost".
-Si? he,he.
-Si, ao "Said", sabes? he, he.

Saio a comunicar e observo as montanhas que há enfrente. A Serra de Madrid. Compreendim ao turista carcerário.
Primeira visita. Nom senta nada bem. Muitas sensaçons fortes de súpeto.
Hoje o atracador marchou do pátio. "- Melhor entro, que tenho muito trabalho!-".
O seu trabalho: escrever queijas do cárcere e cartas a umha mulher contando sobre Deus o quê. Curioso.
Isto é como umha cidade, quitando os muros, claro. É todo mui mental, é o que nos queda, a mente. Mas o corpo também está, estám as hóstias estilo kung-fu e está o correr polo pátio e está o olhar o céu, e as étnias e os falares e as caras curtidas ou nom, está a realidade a toda cor. "Nom me contes películas, e vem ao cine" cantavam no único filme que conseguírom projectar quando okupárom a Sala Iago.

Também estám as montanhas ao fundo, e há tanto anaco de céu como o que se pode ver desde qualquer andar de qualquer cidade com outro edifício enfrente. Claro, nom há rio, nem o verde, nem os sol-pores, nem os menceres que che cobrem o corpo ali na Amaía.

Segunda-feira, 14 de Janeiro. 2013
Olho o anaco de céu: "- Caralho, caralho-" sai-me.
- “Há que ver como sodes os galegos, sempre co caralho na boca!” - diz o velho atracador.
E volta ao mesmo. Suponho que é assi. O sol nos olhos, é o melhor momento do dia. Vou conhecendo mais dos meus "compas". A vida e a morte, o respeito, os jeitos de vida, a religiom. Os muçulmanos e a grande importáncia da matemática no Corám.
O velho anda fodido. Dá umha forte patada à porta automática: "- Levai-me para dentro, cabrons!-". É umha personagem de coidado, tem ares ao Mestre Mutenroy, e a Papa Noel, e tem um espírito dum rapaz de 20 anos.
"- Gallego, que plantabas tú en la huerta, hombre!-".
Tanto o albanês como o paquistaní som muçulmanos, mas o segundo semelha tomá-lo mais a sério. "- Ti és religioso ou crês que o homem vem do mono?-".
Falamos sobre ética, o paquistaní está contra o roubo, diz que segundo a sua religiom deveria cortar-se a mao a quem roube, como fam nalguns países, pois apropriar-se das cousas do outro é como desafiar a Deus, eu comento-lhe que roubar numha grande cadeia de supermercados, por exemplo, nom é um roubo, é umha expropiaçom do que
nos foi roubado, e entende-o.
Logo, falando, dou-me conta dumha cousa. Som um "pordiosero" ao seu lado; o paquistaní saia de festa com 2000 euros, e o albanês merca uns sapatos por 1000 euros. Eu digo-lhes que com isso vivo meses e rim-se de mim.

- Homem, dá-me mágoa que estejas aqui, aguardo que todos os do teu povo saiam à rua- diz o albanês.
O jantar. O sistema. O sistema que é mercadoria que se adentra.
Tom está neste pequeno campo de concentraçom vestindo roupa de marca e falando de como move milheiros e milheiros de euros, e de como fora vive num chalet com piscina e jacuzzi e de como burla à justiça, e de como saiu da pobreza absoluta. Trata-me falando de irmao. Sabes, irmao?.
E, trás as três horas de pátio, outra tarde mais, escrevo um poema, ponho-me de pé sobre a cama para ver um anaco de sol e escoito ao fundo umhas presas ligado a berros com outros presos, e logo cantam umhas a outras, semelha que há mais vida fora.

Trouxérom um novo, um romeno de 25 anos, castigado a 10 dias de isolamento, e obrigado a sair só ao pátio.
Helicóptero militar no céu.
Agora, em inverno, consolo-me com que a aquecimento é boa cousa, e sinto-me aquecer neste fogar estranho.

Terça-feira, 15 de Janeiro, 2013

É curioso espertar. O mais curioso é tentar entender que o meu mundo é isto, esta cela com um muro enfrente e umha reixa em riba. Com um pátio de merda (8x20 metros, praticamente fechado por em riba e aos lados), com umha portaria debuxada, que nem o sol dá. Mas é o que há, há que amarrar-se ás palavras.

O footing, umhas poucas flexons, e hoje histórias de prostitutas, amores trágicos e jogos de casino. Porque o mundo destes dous era o mundo mais materialista no mal sentido: Marbelha, prostíbulos, borracheiras com maletins cheios de merda, umha mulher viajando com bilhetes pegados ao corpo...
Enfermos de cárcere, o tempo cobra outro sentido. Hoje sonhei que existia umha ilha mais alá de Fisterra...

Quarta-feira, 16 de Janeiro, 2013

Esperto sobressaltado. Sonho que estou a piques de afogar saudando um neno, numha praia artificial que tem um campo de golf ao lado. Nom esperto mal, semelha que me vou preparar para umha viagem importante ou algo. Quando saio ao pátio de merda e penso que nom vai haver mais que isso em todo o dia é quando me dá o baixom. O cárcere dentro do cárcere, isto é umha peleja à longa, nom de intensidade imediata.

Quinta-feira, 17 de Janeiro, 2013

Lamborghinis, ferraris,... tanto Tom como Jean compartilham  comigo cafés e intimidades. É importante manter-se forte.

Sexta-feira, 18 de Janeiro, 2013

O velho atracador recebeu umha hóstia na cabeça, parece ser que a tivo com os "funcionários". Queixa-se de que nom há uniom.
Tom diz que na sua religiom, Jesús chegou no tempo da medicina, e que Maomé no da poesia, e que há chegar um profeta agora que estamos no tempo da tecnologia. Ele dizia que assi como Jesús curava, e Maomé falava muito bem, o profeta que há chegar há manejar muito bem a tecnologia.
Mas eu digo-lhe que, no caso de que isso fosse assi, e/a profeta seria um/ha profeta contra a sociedade do controlo tecnológico, promulgando a liberaçom dos povos e das pessoas.

Sábado, 19 de Janeiro, 2013

Supervivência num meio hostil, hostil de verdade. E mais, à longa.
Mas se algo aprendo é que ante umha situaçom assi de extrema há que manter-se forte, superar esse minuto no que semelha que vás morrer para assi sair para adiante e que passe a semana.
Esperto sobressaltado no meio da madrugada. No pesadelo, entro numha praia, sobe a maré e tem muitas rochas. É impossível sair dela. Primeiro afoga um cam pequeno, depois vou afogar eu.
Umha voz fala no corredor com um preso, nom tem nem ideia do que diz. Como se pode "trabalhar" num cárcere sem saber o que é estar presa antes?

“Chove, chove, na casa do probe”. Hoje caminhamos de 9:30 ou assi a 13:30, fôrom 4 horas dando voltas por um caminho imaginário, a charca que reflexa, os paxaros migrando; e quando vou comunicar e saio do módulo, a montanha que está trás dos muros, ao fundo. Que nom a tape a névoa... Que nom a tape, e umha visita é para mim força e ajuda. O fundo do ar é gris, mas há algo de vida em todo isto.

Domingo, 20 de Janeiro, 2013

Viver através das palavras dos outros, agarrar-se a essas outras realidades, que som histórias, que som contos que che sacam de aqui dentro, por momentos.
Hoje, Diego, enfermo de VIH, com mono de metadona, recebeu umha paliza por vários carcereiros e sacárom-no com nós ao pátio.

Segunda-feira, 21 de Janeiro, 2013

A liberdade ao 5%?

Terça-feira, 22 de Janeiro, 2013

A charca no chao semelha um pulpo, e no muro cresce musgo...
O Diego fala de como ia ás discotecas cheio de ouro e com carros de alta gama, e penso em quando ia ao instituto e lhe fumava uns caroços no pátio cos colegas.
Dou-me conta tamém de que o primeiro que há que fazer ao chegar aqui é passar do tabaco e de qualquer tipo de droga legal ou ilegal. Toda energia dum é pouca.
3 horas de pátio minúsculo: buscar pôr-se baixo o sol, buscar algo de exercício e algumha palavra que dea calor.

Quarta-feira, 23 de Janeiro 2013

" Entrevistam-me" duas trabalhadoras sociais. Jovens, observam-me como se tivesse saído dum zoológico.
"- Detivérom-te o dia 7 eh!. Menudo regalo de reis...-"
Pergunto-lhes por que estou com art.75.1 (castigado "pola seguridade e boa ordem do centro"), e se tenho actividades e dim-me que é assi, que vou passar muito tempo isolado e que isto é o que há, que o que aconteça comigo é umha decisom que vem de em riba, umha decisom política.
Entom olho-as e deixo de ver duas rapazas novas, e deixo de ver duas trabalhadoras sociais, e começo a cair na conta do que acontece: política de guerra. Maquinária de destruçom do prisioneiro.
O cárcere do cárcere.

Isto é um pouco o que figérom comigo durante os primeiros dias, depois deixárom-me só com gente bastante menos sam...e dous meses depois trasladárom-me a Villabona e me aplicam outro regime, um regime "semi-ordinário" que já contarei...

Viva Galiza ceive!
Abaixo os muros das prisons!